Este país não é para amadores: em breve, nas urnas eletrônicas que Sair Salnorabo e seus asseclas matracam que não seriam confiáveis, haverá a possibilidade do eleitor escolher pela continuidade da hecatombe. Pesquisas de intenção de voto revelam a extensão da alienação e da perversidade que entre nós grassam: ainda há uns 25% do eleitorado que tá “fechado” com o bolsonarismo mesmo que este tenha fechado num mega-caixão quase 700.000 corpos de nossos condidadãos.
Uma das poucas operações bem-sucedidas do desgoverno – a Mata-Jato (para emprestar uma ideia do cartunista Jota Camelo) – não gerou como reação de resistência aquilo que merecia: um movimento cívico que tomasse as ruas e redes exigindo que o operador principal da carnificina fosse, no mínimo, tornado inelegível.
Só mesmo no Brasil onde “as instituições estão funcionando normalmente” é possível que um genocida seja candidato à re-eleição. Matar em massa o povo que ele deveria representar supostamente capacita o delinquente a estar elegível ao invés de condenado à prisão vitalícia. Em 2018, tivemos uma acintosa violação do devido processo eleitoral com o aprisionamento de Lula, líder nas pesquisas, naquilo que hoje já foi desmascarado como uma fraude de lawfare chefiada por um ex-juiz que depois seria Ministro do governo que ajudou a eleger. Naquela ocasião, faltavam as provas e sobravam convicções; no caso de Bolsonaro, as provas de delinquência empilhadas sobem às alturas de um arranha-céu, porém… faltam será que convicções às nossas instituições para punir o Capitão Cloroquina idólatra de Ustra?
Lançar 33 milhões na condição de famintos através de uma política econômica estapafúrdia, alinhada com a Doutrina do Choque neoliberal de molde pinochetista, supostamente capacita o inepto a disputar um pleito democrático cujo resultado o mesmo ameaça não acatar. O Sr. Paulo Guedes terminar seu mandato como Ministro da Economia é outro acinte aos milhões que sua miopia necroliberal lançou ao sofrimento crônico e à insegurança alimentar severa.
Antes da pandemia eclodir, o desgoverno já vinha sendo reconhecido como desastroso para os direitos humanos (estes, sempre disseram os bolsofascistas, não passam de “esterco da vagabundagem”); com a chegada do coronavírus, o desastre pulou para outro patamar de podridão. Aliado do vírus, o obscurantismo terraplanista e o negacionismo da crise sanitária do governo Salnorabista geraram o adoecimento e a morte em massa de nosso povo.
Perdemos quase 1 milhão de vidas (nunca saberemos ao certo quantas, dada a obscena subnotificação e o fenômeno do “apagão de dados” que a gestão Pezadello especializou-se em promover). Um Brasil com cemitérios cheios e geladeiras vazias não foi gerado por acidente: foi acarretado pela irresponsabilidade criminosa da extrema-direita neo-fascista encabeçada pelo Coiso e seus cúmplices.
Mesmo sem pandemia, já teríamos motivos de sobra para depor o desgoverno demolidor de democracia devido a seu recorrente incentivo à violência truculenta de PMs, milicos, milicianos, grileiros, garimpeiros e outros paus mandados da elite-do-atraso que foram armados até os dentes:
“Em seu relatório anual de 2020, a ONG internacional Human Rights Watch avalia que o primeiro ano do governo Jair Bolsonaro foi desastroso para os direitos humanos. Dentre os destaques das violações estão a situação da Amazônia, a violência policial, a liberdade de imprensa e o sistema prisional. (…) No capítulo sobre o Brasil, há menção específica sobre o caso da morte do músico Evaldo Rosa, 40 anos, alvejado mais de 80 vezes por militares do Exército em Guadalupe, na zona norte do Rio de Janeiro, em abril do ano passado. E também sobre Agatha Felix, menina de 8 anos morta no Complexo do Alemão durante operação policial, um dos acontecimentos cruciais para que as discussões sobre a excludente de ilicitude tomassem outro rumo.” – PONTE JORNALISMO
Em um livro magistral, vencedor do Jabuti, um dos mais competentes jornalistas do país, Bruno Paes Manso, pôs a nu as engrenagens da República das Milícias e mostrou que as chacinas nas quebradas que assolam o Brasil, sobretudo na metrópole do Rio de Janeiro, também não são acidente nenhum e estão plenamente alinhadas com a ideologia brucutu do militarismo bostossáurico.
“Entre 2018 e 2019, mais de 12 mil homicídios foram cometidos pela polícia em supostas ações de legítima defesa, o que tornou as corporações brasileiras as mais letais do mundo em números absolutos. (…) Em Fevereiro de 2019, o Ministro da Justiça Moro apresentou projeto de lei anticrime. Uma das medidas do pacote determinava ‘que o juiz poderá reduzir a pena até a metade ou deixar de aplicá-la se o excesso ocorrer de escusável medo, surpresa ou violenta emoção’ em casos de legítima defesa… Se a impunidade já imperava, o projeto de lei passava o recado: é permitido exterminar.” (PAES MANSO, pg. 290)
O Seu Jair jamais demonstrou nenhuma das virtudes que os cristãos dizem abraçar. É bizarro, portanto, que tantos cristãos sejam apoiadores e eleitores de uma figura que cospe em cima do amor ao próximo, que mija em cima da caridade, que caga nos valores de solidariedade. Cristãos – sejam católicos, evangélicos ou de outras seitas – deveriam ter pelo menos a dignidade de alimentar ainda que minimanente o senso crítico contido na sábia preleção Shakespeareana: o Diabo sabe citar a Bíblia. O Anticristo também sabe utilizar os altares a seu favor para conquistar a adesão à sua gananciosa e mesquinha plataforma de dominação.
O bolsonarismo é tosco, estúpido, idiota, mas possui uma sedução insidiosa justamente por dar de comer à preguiça mental ao propor soluções simples para problemas sociais complexos. Insiste que há apenas uma solução única para todos os problemas sociais e contradições políticas: a beligerância, a aniquilação do inimigo, a guerra armada contra tudo que destoa da norma do capitalismo patriarcal da supremacia branca. Tudo supostamente se resolve no tiro, na agressão, no xingamento. O bolsonarismo quer um país à sua imagem e semelhança: todos contra todos, e na falta de arroz com feijão, que comamos raiva e incompreensão. O que não faltará entre nós é o ódio nosso de cada dia. Eles sequestram o ídolo Jesus, transfigurado pela psicose que os nutre, para fazer parte deste culto da morte e da destruição, mas o verdadeiro messias deles é o JesUstra. Entre o torturado e o torturador, eles preferem o torturador.
“A beligerância continuou durante a pandemia do coronavírus. Bolsonaro atacou epidemiologistas e médicos que recomendaram o isolamento social como a forma mais segura de desacelerar contaminações e mortes, e de evitar o caos no sistema de saúde. Também vociferou contra governadores que seguiam recomendações de médicos e cientistas, agrediu a imprensa que noticiava e explicava os danos e as mortes causados pela epidemia, substituindo-os por um militar sem experiência na área.” (PAES MANSO, pg. 290)
Por causa da irresponsabilidade criminosa do Capitão Cloroquina, que adotou o terraplanismo sanitário e o desdém pela vida de nosso povo sintetizado em seu “e daí?”, o Brasil tornou-se o segundo país do mundo com mais óbitos causados pelo coronavírus e a pergunta que não quer calar é: por que o presifake não foi punido após tantos atentados contra a saúde pública? A resposta, é claro, passa pela compra do “Centrão”, pela cumplicidade de Lira e Pacheco (presidentes da Câmara e do Senado) e também pelas práticas do “engavetador geral da república” na PGR, o Sr. Aras, um bolsonarista que tem feito tudo para blindar seu patrão.
Segundo Rede Brasil Atual, “a CPI da Covid vai ao STF contra ‘blindagem’ de Bolsonaro pela PGR – Senadores pedem ao STF abertura de inquérito contra Augusto Aras e sua vice por prevaricação caso se confirme arquivamento de denúncias de crimes de Bolsonaro na pandemia”. O senador Randolfe Rodrigues questionou Aras pelo Twitter: “Como se arquiva a dor de um filho que perdeu um pai porque Bolsonaro mandou usar cloroquina? Como se arquiva a dor de uma mãe que perdeu um filho porque o governo não comprou vacina? Pergunto ainda: onde o senhor arquivou a sua consciência?”
No país onde fascistas celebram o “cancelamento de CPFs”, a extrema-direita propaga a noção de que os direitos humanos são apenas para os “humanos direitos”. Na ótica deles, estes últimos se caracterizam por serem humanos de direita e cidadãos-de-bens, firmemente apegados aos dogmas da heteronormatividade compulsória, da dominação masculina, do monoteísmo criacionista, do racismo estrutural mantido a ferro e fogo pela supremacia branca.
Neste “país com um longo passado pela frente” (Millôr), o “auto de resistência” e o “excludente de ilicitude” passam como um trator sobre os direitos humanos, sistematicamente violados. A Amazônia é devastada em meio às urgências do colapso climático e proliferam os cadáveres daqueles indivíduos e povos que defendem a sociobiodiversidade da floresta.
Diante deste mega-desastre que nasce como fruto mórbido do Golpe de Estado de 2016 (impeachment sem crime de responsabilidade desferido por um Congresso majoritariamente de picaretas contra uma presidenta honesta) e do golpe suplementar de 2018 (aprisionamento ilegal, em ano eleitoral, do candidato que liderava as intenções de voto, através da facada de uma Lava Jato cheia de convicções mas vazia de provas), não contem com nosso silêncio, nem com nossa “neutralidade”.
O Facebook pode nos censurar, se quiser; os trolls e haters podem vir tacar pedras em nossa vidraça; os isentões podem pedir que evitemos extremismos e fiquemos mornos e calados em cima do muros dos conformismos; mas, diante desta monstruosa máquina de opressão e desumanização, seguiremos gritando à necropolítica dos fascistas: NÃO! ELE NÃO! ELE NUNCA! ELE JAMAIS! ELE NUNCA MAIS!
Publicado em: 31/07/22
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
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